domingo, 3 de junho de 2012

Uma conversa com Deus


     - Sinto-me sozinho, Pai. Pareço como esses pingos de chuva. Estão sozinhos. Caem sozinhos. Vão embora sozinhos. Qual o destino deles?
                - A importância deles ninguém discute, filho.
                - Sim. Eu sei. Mas me refiro à solidão deles.
                - Quem disse que estão sozinhos? Por onde vão, fazem-se acompanhar. São como o dia e a noite, necessários à continuidade da vida, sem os quais não haveria a luz resplandecente do bem e a ternura inefável da caridade.
                - Mas, Pai, por que essa solidão que me abate quando no céu não vejo o Teu sol?
                - A chuva é também Minha Filha. Não pode haver preconceito de nenhuma espécie entre a Minha Criação e o que vocês conceituaram. A riqueza e a pobreza constituem-se dádivas existenciais de destinos diversos de filhos reencarnados para u’a missão necessária.
                - Se falharem...
                - Pobre daquele filho que tropeça na pedra do caminho.
                - Poetando também o Senhor?
                - De quem mais o Poeta tirou a inspiração senão de Mim?
                - Não discuto. Aceito. Mas, meu querido Pai, Tua Voz não repercute em mim a chama da valorização humana, da volta ao convívio social.
                - Você quem o quis assim, filho. O que posso fazer? E o seu livre-arbítrio?
                - Sim, Pai. Não me esqueci de Teus Ensinamentos. Mas necessito de Ti, da Tua Mão, da Tua Compreensão. Ajuda-me, por favor, Pai.
                - Amado filho, suas lágrimas se confundem com a chuva que carrega para longe os seus percalços e desencontros de uma existência tribulada e às vezes vazia.
                - Muito vazia. Sem ninguém. Às vezes sem Ti.
                - Muito grave, filho Meu. Estou sempre presente nas horas de suas maiores provas, como agora. Lembra-se daquelas pegadas na areia? A inspiração foi dada por Mim a um descrente como você, que perdera o objetivo de sua missão, a noção da vida, enfim, estava perdido num abismo existencial. Mas ele conseguiu se reerguer e encontrou a Mim.
                - Como posso Te reencontrar?
                - Você já ME reencontrou com suas lágrimas e com sua solidão.
                - Mas me sinto só, Pai. Nunca me senti tão sozinho como agora. Preciso de alguém para me confortar. Tua Mão, onde está a Tua Abençoada Mão, Pai?
                Quando a chuva cessou e eu parei de chorar, minha mãe entrou.

Sérgio Simka
(Professor da FIRP)
                  

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