- Sinto-me sozinho, Pai. Pareço
como esses pingos de chuva. Estão sozinhos. Caem sozinhos. Vão embora sozinhos.
Qual o destino deles?
- A
importância deles ninguém discute, filho.
- Sim.
Eu sei. Mas me refiro à solidão deles.
- Quem
disse que estão sozinhos? Por onde vão, fazem-se acompanhar. São como o dia e a
noite, necessários à continuidade da vida, sem os quais não haveria a luz
resplandecente do bem e a ternura inefável da caridade.
- Mas,
Pai, por que essa solidão que me abate quando no céu não vejo o Teu sol?
- A
chuva é também Minha Filha. Não pode haver preconceito de nenhuma espécie entre
a Minha Criação e o que vocês conceituaram. A riqueza e a pobreza constituem-se
dádivas existenciais de destinos diversos de filhos reencarnados para u’a missão
necessária.
- Se
falharem...
- Pobre
daquele filho que tropeça na pedra do caminho.
-
Poetando também o Senhor?
- De
quem mais o Poeta tirou a inspiração senão de Mim?
- Não discuto.
Aceito. Mas, meu querido Pai, Tua Voz não repercute em mim a chama da
valorização humana, da volta ao convívio social.
- Você
quem o quis assim, filho. O que posso fazer? E o seu livre-arbítrio?
- Sim,
Pai. Não me esqueci de Teus Ensinamentos. Mas necessito de Ti, da Tua Mão, da
Tua Compreensão. Ajuda-me, por favor, Pai.
- Amado
filho, suas lágrimas se confundem com a chuva que carrega para longe os seus
percalços e desencontros de uma existência tribulada e às vezes vazia.
- Muito
vazia. Sem ninguém. Às vezes sem Ti.
- Muito
grave, filho Meu. Estou sempre presente nas horas de suas maiores provas, como
agora. Lembra-se daquelas pegadas na areia? A inspiração foi dada por Mim a um
descrente como você, que perdera o objetivo de sua missão, a noção da vida,
enfim, estava perdido num abismo existencial. Mas ele conseguiu se reerguer e
encontrou a Mim.
- Como
posso Te reencontrar?
- Você
já ME reencontrou com suas lágrimas e com sua solidão.
- Mas
me sinto só, Pai. Nunca me senti tão sozinho como agora. Preciso de alguém para
me confortar. Tua Mão, onde está a Tua Abençoada Mão, Pai?
Quando
a chuva cessou e eu parei de chorar, minha mãe entrou.
Sérgio Simka
(Professor da FIRP)
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