Confesso que eu não gostava de ler. Isso mesmo. Na graduação em Letras, eu lia os livros mais por obrigação do que por gosto. No entanto, Lia Machado de Assis, com satisfação, porque tive um professor de Literatura inesquecível (a última vez que o encontrei foi num congresso na USP, em que soube que ele estava lecionando na Universidade Federal de Minas Gerais), que era machadiano.
No ensino médio, nem pensar. Lia porque era obrigado, fiquei até “de recuperação” por não ter lido um determinado livro. Mas passei, pois minha namorada na época, que havia lido o livro, me contou toda a história. E eu não li o livro. Como diz meu papai, bonito, né?
Mas eu gostava de escrever. Gostava até mais do que hoje. Quase um ato compulsivo, de quem precisa daquilo pra sobreviver. Acho que foi na década de 90. Escrevia toda semana num jornal de Mauá. E a compulsão era tanta que cheguei a pagar as minhas matérias durante certo tempo. Acho que pagava duas matérias e as outras duas eram publicadas de comum acordo, ou seja, minha crônica era publicada toda santa semana, durante um mês seguido.
Só depois, após concluir minha pós-graduação, é que tomei jeito. Ou melhor, comecei a “tirar o atraso” (eta expressãozinha feia) e comecei a ler compulsivamente. Alucinadamente. E como não bastasse, comecei a gastar uma soma vultosa (e, pelo amor, não é “vultuosa”, como os vulgos acham) em livros.
Comecei a comprar tanto livro que tive de colocá-los no meu escritório do andar superior do meu sobrado básico. Como as prateleiras cederam com o peso dos livros, estes ficam no chão mesmo. E o Elvis está proibido de entrar lá, pois já flagrei o animal de pelo a levantar a perna pro Nietzche.
De modo que hoje a leitura pra mim é um prazer, uma necessidade, uma vida paralela. Não vejo a hora de a noite chegar para continuar a ler os meus livros. Estou redescobrindo O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos. Aliás, vai outra confissão: acho que estou lendo-o pela primeira vez. Como na história, Zezé, com o seu pé de laranja lima, e eu, com a leitura, encontramos um motivo para sermos felizes.
Sérgio Simka, professor da FIRP-UNIESP, e coordenador do Núcleo de Escritores.