sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Escola, livro e ambiência cultural


Achei fantástica esta frase: ‘Eu ia muito mal na escola, mas lia Shakespeare'. Temos aí grave constatação: a de que a escola, um ambiente de cultura (apesar de que em alguns ambientes de cultura as ingerências são muito comezinhas), vem executando serviço totalmente oposto à cena cultural, porque era de se esperar que ela despertasse a paixão pela leitura, e não afugentasse os futuros leitores.
Como então despertar o gosto pela leitura num mundo em que as informações, o conhecimento, quase tudo está a um clique? Mas para quantidade esmagadora de pessoas, a escola talvez seja o único lugar em que elas vão ouvir falar de cultura, de livros. Daí ela precisar abrir-se para esse mundo, disponibilizando livros a todos, e não os fechando em bibliotecas sombrias. E não só disponibilizar. Há a necessidade de mostrar que o livro pode mudar uma vida, que a história existencial da pessoa, cheia de privação, de miséria, poderá ter, sim, final feliz, mesmo que esse final feliz venha por meio do conhecimento de que se é mantido à margem por motivos econômicos, de dominação.
Em todo caso, o papel do professor precisa mudar, ao chamar para si a tarefa hercúlea de fazer com que alunos, que mal ouvem o que dizem, que preferem virar as costas, ou jogar cartas na sala, se vejam na responsabilidade de reescrever uma história diferente, a começar pela mudança de postura. É preciso pôr na cabeça dessas pessoas que elas não vão chegar a lugar algum se mantiverem postura de indiferença, de descrédito, como se o futebol, a televisão ou o Big Brother Brasil fossem mais importantes que algumas horas de viagem na leitura. Dizem, em alto e bom som, que se trata de ‘perca' de tempo. Pois é.
Porque a verdade é que a população prefere assistir à novela a desfrutar momentos prazerosos que um livro pode fornecer, porque a novela não faz pensar, porque atrás de atrações nada dignificantes existe projeto de manter a massa num estado de ‘podridão' cultural, estágio final da chamada alienação. Pois o povo está há muito alienado, basta perguntar o que acha das famigeradas ‘pegadinhas do Faustão', para que risadas sejam a resposta. Na verdade, é de chorar. Vai outra constatação: como o ser humano gosta de ver o outro na fossa, para não escrever aquela palavra que o leitor com certeza pensou.
Sérgio Simka é professor universitário e escritor. Bruna Fonte é escritora e fotógrafa especializada em fotografia documental do patrimônio histórico e natural
http://www.dgabc.com.br/Columnists/Posts/73/7793/escola-livro-e-ambiencia-cultural.aspx


Nenhum comentário:

Postar um comentário