sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Do transtorno obsessivo-compulsivo por livros

Ele não podia ver uma livraria que logo entrava. Tinha de sair dali carregando um livro, de preferência dos gêneros de que gostava: terror e policial. Quando então ia ao centro da cidade, o seu itinerário se resumia nos sebos próximos. Muitas vezes se esquecia de almoçar ou não almoçava, para poder usufruir mais tempo na presença dos seus ilustres amigos.

O seu salário tinha como destino óbvio a aquisição de dezenas de títulos, que entupiam o seu pequeno escritório, já abarrotado por centenas de exemplares.

Quando ficava frustrado por qualquer motivo, entrava no seu escritório, acomodava-se literalmente no meio dos livros e mergulhava num silêncio reverenciador. Às vezes nem ouvia o seu próprio coração bater.

Foi num cenário desses, em que ele mais uma vez mergulhava profundamente, tentando buscar uma resposta a suas frequentes frustrações ou sei lá o que fossem aquelas horas em que passavam consigo mesmo, que ele não ouviu o estrondo, seguido do desabamento das paredes de seu escritório, por fim, de sua modesta casa, que não aguentou o sobrepeso dos livros.

Sob os escombros, a primeira coisa que os bombeiros retiraram foi um livro intitulado “Da felicidade”, agarrado a suas mãos. Até em sua morte, os livros lhe fizeram companhia.

*Sérgio Simka é professor universitário e escritor.

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